Liminal Spaces é uma experiência interativa em realidade virtual onde o espectador entra repentinamente em uma dimensão estranha, nostálgica e solitária. Lá, ele se depara com um personagem misterioso que está aprisionado e precisa de ajuda para escapar. 

Ao longo das últimas décadas, a tecnologia tornou mais fácil do que nunca a disseminação de informação, transformando a atenção num recurso escasso. Entre os múltiplos ecrãs com que interagimos diariamente, existe uma batalha poluída e avassaladora pela atenção que, devido aos avanços na inteligência artificial, está agora a desviar-se da atenção para a intimidade. A competição entre algoritmos para capturar a atenção de utilizadores cronicamente online levou a uma descoberta interessante: quando os botões de “ganância”, “ódio” ou “medo” do cérebro são acionados, as pessoas tendem a permanecer mais tempo online e envolvidas. Como resultado, os algoritmos começaram a promover deliberadamente este tipo de conteúdos. Anteriormente, estes algoritmos tinham uma capacidade limitada para gerar este tipo de conteúdo ou manter conversas diretas e íntimas. No entanto, isso mudou com o advento dos novos modelos de IA generativa, como o GPT-4 da OpenAI. Teóricos como Yuval Noah Harari sugeriram que as IA contemporâneas possuem algo semelhante a uma “teoria da mente”. São capazes de analisar como as situações aparecem da perspetiva de um interlocutor humano e manipular as suas emoções, opiniões e expectativas para atingir objetivos específicos. Neste contexto, promover uma “intimidade falsa” não requer que a IA desenvolva emoções reais; basta que faça com que os humanos se sintam emocionalmente ligados a ela. O projeto Liminal Spaces visa criar uma experiência utilizando IA em tempo real, Realidade Mista (MX), Realidade Virtual (VR) e corporificação, para desencadear uma conversa sobre o estado liminar em que a sociedade contemporânea se encontra em relação à inteligência artificial. Utilizando uma narrativa centrada numa personagem misteriosa que está presa e precisa de ajuda, procuramos desafiar as noções convencionais de intimidade e refletir sobre como a tecnologia pode afetar a nossa perceção da vida e potencialmente ameaçar a democracia. Para transmitir emoções através de storytelling ambiental, iremos incorporar a estética dos Espaços Liminares. Esta tendência ganhou popularidade nos últimos anos, quando um utilizador anónimo do 4chan pediu a outros que publicassem “imagens perturbadoras que parecessem estranhas”. Isso desencadeou um fenómeno digital, em que fotografias com uma estética partilhada evocam sensações que esbatem as linhas entre o familiar e o inquietante. Estes cenários desorientadores criam uma lacuna entre a realidade e a irrealidade, que pretendemos explorar. Além disso, pretendemos contribuir para o desenvolvimento da linguagem MX/XR numa perspetiva artística. O nosso objetivo é elevar gestos corporificados — como levantar ou baixar as mãos — para além das suas funções utilitárias, explorando se é possível expandir o processo de criação de sentido nas tecnologias imersivas. 

Lui Avallos

Ficha Técnica
Realização: Lui Avallos
Produção: Catarina de Sousa e Rodrigo Moreira
Desenvolvimento: Michael Barngrover
Produção: Foi Bonita a Festa, Mundivagante Studio

Acesso livre.