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En rachâchant

En rachâchant · En rachâchant

Danièle Huillet, Jean-Marie Straub

1982, FR, 7', M12


Antes e Depois

26 Nov 2024 · Batalha Centro de Cinema - Sala 2 · 17H45


PT geral

As curtas antes do Curtas
Porque é que fundamos há mais de 30 anos um festival de curtas? Eu acho que já ninguém sabe, foi uma opção um pouco inconsciente numa altura em que curta- metragem era algo que nem sequer fazia parte do vocabulário corrente. Mas acredito que os filmes que tínhamos visto, num passado mais ou menos recente, devem ter tido um papel importante. Aproveitei o mote lançado pelo Porto/Post/Doc para revisitar aquilo que seria o meu cânone pessoal da curta-metragem antes de fazermos um festival dedicado às curtas. Um exercício de memória onde devem existir algumas falhas. Mas, ao contrário de alguns filmes que vi há dois anos, há algumas curtas que sei exactamente onde e em que circunstância foram vistas, pois eram coisa rara. Desde logo, o primeiro filme que vi no cinema era uma curta, Le ballon rouge, de Albert Lamorisse, numa sessão de Natal da empresa onde trabalhavam os meus pais. Ou os filmes do programa “Animação”, do Vasco Granja, desde o Bugs Bunny e o Daffy Duck até ao Norman McLaren. A programação da RTP2, que podia surpreender com obras como; Film, do Samuel Beckett, ou La Ricotta, de Pasolini. As sessões do Cineclube do Norte, onde vi com alguns dos meus futuros colegas do festival, na mesma sessão, o Noite e Nevoeiro do Resnais, e La sequenza del fiore di carta outra vez Pasolini. De todos estes, ficaram para o programa no Porto/Post/Doc dois filmes vistos no festival de cinema da Figueira da Foz, em anos distintos, o Zero de conduite do Jean Vigo, que recordo, se a memória não me atraiçoa, como parte de uma escolha do Manoel de Oliveira, e En rachâchant, de Straub e Huillet, apresentado na competição de curtas-metragens, que penso ter sido premiado. Foi mera coincidência, mas verifico agora que ambos são exemplos de contestação e resistência, dentro da escola, a toda a manifestação de autoridade: no filme de Straub- Huillet, baseado num livro infantil de Marguerite Duras, um menino recusa-se a ir à escola porque lhe ensinam coisas que ele não sabe; o filme de Jean Vigo, proibido em França durante quase duas décadas após a sua realização, retrata um grupo de estudantes de um rígido colégio interno que se revolta contra a instituição, e o filme é ainda hoje considerado um dos mais ousados actos de rebelião da história do cinema. (Miguel Dias)

En rachâchant, de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, baseia-se no conto Ah! Ernesto! (1971) de Marguerite Duras, no qual o menino Ernesto já não quer ir à escola. O filme aborda a tensão entre o conhecimento oficial ensinado nas escolas e a cultura popular. Aqui, é o aluno que traz um sistema pedagógico novo e revolucionário. O filme é uma lição sobre formas de resistência à instituição e uma reflexão política sobre o sistema educativo, e o estatuto das crianças.