Antes do Curtas, muitas vezes, com este bando de amigos fui descobrindo filmes que vieram a marcar a minha e as nossas vidas, primeiro nos cinemas de Vila do Conde, da Póvoa de Varzim e do Porto, depois e durante a década de 80, tornou-se um destino regular em Setembro, viajarmos juntos e de mochila às costas até ao Festival de Cinema da Figueira da Foz. Local de descoberta de filmes e autores que não se viam por cá nas salas de cinema, assistimos a longos e apaixonantes debates sobre esses filmes, onde se misturavam numa atmosfera única para nós, os realizadores, os críticos de cinema e nós, entre o público.
Foram muitas as descobertas nesse festival e Rainer Werner Fassbinder foi um dos que mais me marcou, um cineasta genial, que morreu de overdose em 1982, tal como muitas figuras da música idolatradas pela minha geração. Tinha uma capacidade invulgar de realizar vários filmes num único ano, com meios de produção pouco usuais na época. A descoberta de vários dos seus filmes, tais como As lágrimas amargas de Petra Von Kant com a sua musa Hanna Schygulla, foram inspiradores para mim nesse período. Alguns anos depois vi O medo come a alma, filme-homenagem a Douglas Sirk, um dos seus realizadores de eleição de, adaptado à Alemanha da década de 70. O modo como Fassbinder misturou a sua vida pessoal, as suas paixões, num momento crítico da Europa desse tempo, conferem ao filme uma atualidade que faz todo o sentido no programa do Porto/Post/Doc desta edição.(Nuno Rodrigues)
Rainer Werner Fassbinder presta homenagem ao seu herói cinematográfico Douglas Sirk com este pequeno aceno de cabeça a All That Heaven Allows. Uma viúva solitária (Brigitte Mira) conhece um trabalhador árabe mais jovem (El Hedi ben Salem) num bar, durante uma tempestade. Apaixonam-se, para sua própria surpresa - e para o choque total das suas famílias, colegas e companheiros de bebida. Em Ali: Fear Eats the Soul, Fassbinder utiliza habilmente o poder emocional do melodrama clássico de Hollywood para expor as tensões raciais subjacentes à cultura alemã contemporânea.